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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Exame preventivo da próstata faz mais mal que bem. Homens não acreditam.


Controvérsia sobre exames da próstata

Embora inúmeros pesquisadores ao redor do mundo venham insistindo que, quando o assunto é câncer de próstata, exames de PSA fazem mais mal do que bem, o alvoroço começou para valer no ano passado.

Uma força-tarefa sobre Medicina Preventiva, formada para analisar as práticas de saúde  nos Estados Unidos, anunciou que os médicos deviam deixar de prescrever os exames de PSA regulares para homens saudáveis.

O assunto causou furor, ainda que outras entidades independentes, formadas unicamente por médicos, tenham começado a fazer coro com a decisão, chamando a atenção para o número excessivo de falsos positivos dos exames rotineiros para detecção do câncer de próstata.

Aqui no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer anunciou restrições também ao exame de toque retal.

O assunto amornou, mas promete ferver novamente, agora que a força-tarefa norte-americana publicou seu relatório final.

Apesar da gritaria geral de médicos e dos laboratórios, que temem perder clientes e faturamento, o grupo manteve suas conclusões iniciais.

Segundo o documento, "o exame de sangue comumente usado para triagem de câncer de próstata, o teste de PSA, faz mais mal do que bem - ele leva os homens a receber tratamentos desnecessários, e às vezes até perigosos".

Acreditar ou não acreditar na ciência

A controvérsia chamou a atenção de um grupo de psicólogos dos Estados Unidos e da Alemanha, uma vez que o problema está-se dando exatamente da mesma forma nos dois lados do Atlântico.

Médicos europeus descartam exames de câncer de próstata como rotina
Os psicólogos queriam saber por que muitas pessoas - tanto pacientes quanto médicos - simplesmente não acreditam que o teste é ineficaz?

Mesmo com provas contundentes, como um estudo de dez anos de cerca de 250.000 homens, que mostrou que o teste não salva vidas, muitos ativistas e profissionais da área médica continuam conclamando os homens a continuar a fazer exames anuais de PSA.

Por que essa desconexão entre a ciência e a prática médica?

Por que as pessoas acreditaram na ciência quando o exame foi lançado inicialmente, mas não acreditam mais agora quando a mesma ciência mostra que o exame não é tão bom quanto se acreditava a princípio?

Histórias vencem estatísticas

Hal Arkes (Universidade do Estado de Ohio) e Wolfgang Gaismaier (Instituto Max Planck) decidiram estudar as reações de homens leigos (não médicos), examinando as razões pelas quais eles são tão relutantes em abrir mão do teste de PSA.

"Muitas pessoas que já fizeram testes de PSA e acham que ele pode ter salvo sua vida estão furiosas que a força-tarefa pareça ser tão negativa sobre o exame," conta Arkes.

Os pesquisadores sugerem que diversos fatores podem estar contribuindo para a condenação pública do relatório.

Muitos estudos têm mostrado que histórias têm poder sobre as percepções que uma pessoa tem sobre tratamentos médicos.

Por exemplo, uma pessoa pode ver estatísticas mostrando que o Tratamento A dá menos resultados do que o Tratamento B.

Mas se ela lê uma história (como uma entrevista ou comentários em um site) de outros pacientes que tiveram sucesso com o tratamento A, a pessoa ficará mais propensa a escolher o Tratamento A, apesar das estatísticas.

A fonte das histórias também importa.

Se um amigo, um parente próximo, ou qualquer fonte confiável recebeu um tratamento bem-sucedido, as pessoas são mais propensas a recomendar esse mesmo tratamento para outras, mesmo se houver evidências mostrando que o tratamento só funciona para uma minoria de pessoas.

Compreensão das estatísticas

Arkes e Gaismaier também propõem que o público pode ter-se posto contra as recomendações da força-tarefa de forma tão feroz porque as pessoas leigas não foram capazes de avaliar corretamente os dados no relatório.

A confusão sobre o uso de grupos de controle pode ter levado as pessoas em geral a avaliarem os dados de forma diferente do que os profissionais médicos o fizeram.

"Como mudar isto é a pergunta de um milhão de dólares. Imagens são muito mais fáceis de compreender do que estatísticas," sugere ele, referindo-se à substituição de quadros e tabelas por imagens que mostrem de forma mais intuitiva os dados estatísticos.

"Sem essa comparação, é difícil para o público avaliar as vantagens e desvantagens relativas de fazer o exame de PSA, versus não fazer o exame de PSA," avalia.

Os homens continuarão a pedir exames de PSA, ou a atender ao pedido dos seus médicos.

Mas a ciência psicológica sugere que, a menos que as pessoas sejam convencidas a escolher as estatísticas em detrimento das histórias individuais que ouvem, a confusão em torno da eficácia do exame vai perdurar, afirmam os pesquisadores.
Diário da saúde.

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