Controvérsia sobre exames da próstata
Embora inúmeros pesquisadores ao redor do mundo venham
insistindo que, quando o assunto é câncer de próstata, exames de PSA fazem mais
mal do que bem, o alvoroço começou para valer no ano passado.
Uma força-tarefa sobre Medicina Preventiva, formada para
analisar as práticas de saúde nos
Estados Unidos, anunciou que os médicos deviam deixar de prescrever os exames
de PSA regulares para homens saudáveis.
O assunto causou furor, ainda que outras entidades
independentes, formadas unicamente por médicos, tenham começado a fazer coro
com a decisão, chamando a atenção para o número excessivo de falsos positivos
dos exames rotineiros para detecção do câncer de próstata.
Aqui no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer anunciou
restrições também ao exame de toque retal.
O assunto amornou, mas promete ferver novamente, agora
que a força-tarefa norte-americana publicou seu relatório final.
Apesar da gritaria geral de médicos e dos laboratórios,
que temem perder clientes e faturamento, o grupo manteve suas conclusões iniciais.
Segundo o documento, "o exame de sangue comumente
usado para triagem de câncer de próstata, o teste de PSA, faz mais mal do que
bem - ele leva os homens a receber tratamentos desnecessários, e às vezes até
perigosos".
Acreditar ou não acreditar na ciência
A controvérsia chamou a atenção de um grupo de psicólogos
dos Estados Unidos e da Alemanha, uma vez que o problema está-se dando
exatamente da mesma forma nos dois lados do Atlântico.
Médicos europeus descartam exames de câncer de próstata
como rotina
Os psicólogos queriam saber por que muitas pessoas -
tanto pacientes quanto médicos - simplesmente não acreditam que o teste é
ineficaz?
Mesmo com provas contundentes, como um estudo de dez anos
de cerca de 250.000 homens, que mostrou que o teste não salva vidas, muitos
ativistas e profissionais da área médica continuam conclamando os homens a
continuar a fazer exames anuais de PSA.
Por que essa desconexão entre a ciência e a prática
médica?
Por que as pessoas acreditaram na ciência quando o exame
foi lançado inicialmente, mas não acreditam mais agora quando a mesma ciência
mostra que o exame não é tão bom quanto se acreditava a princípio?
Histórias vencem estatísticas
Hal Arkes (Universidade do Estado de Ohio) e Wolfgang
Gaismaier (Instituto Max Planck) decidiram estudar as reações de homens leigos
(não médicos), examinando as razões pelas quais eles são tão relutantes em
abrir mão do teste de PSA.
"Muitas pessoas que já fizeram testes de PSA e acham
que ele pode ter salvo sua vida estão furiosas que a força-tarefa pareça ser
tão negativa sobre o exame," conta Arkes.
Os pesquisadores sugerem que diversos fatores podem estar
contribuindo para a condenação pública do relatório.
Muitos estudos têm mostrado que histórias têm poder sobre
as percepções que uma pessoa tem sobre tratamentos médicos.
Por exemplo, uma pessoa pode ver estatísticas mostrando
que o Tratamento A dá menos resultados do que o Tratamento B.
Mas se ela lê uma história (como uma entrevista ou
comentários em um site) de outros pacientes que tiveram sucesso com o
tratamento A, a pessoa ficará mais propensa a escolher o Tratamento A, apesar
das estatísticas.
A fonte das histórias também importa.
Se um amigo, um parente próximo, ou qualquer fonte
confiável recebeu um tratamento bem-sucedido, as pessoas são mais propensas a
recomendar esse mesmo tratamento para outras, mesmo se houver evidências
mostrando que o tratamento só funciona para uma minoria de pessoas.
Compreensão das estatísticas
Arkes e Gaismaier também propõem que o público pode
ter-se posto contra as recomendações da força-tarefa de forma tão feroz porque
as pessoas leigas não foram capazes de avaliar corretamente os dados no
relatório.
A confusão sobre o uso de grupos de controle pode ter
levado as pessoas em geral a avaliarem os dados de forma diferente do que os
profissionais médicos o fizeram.
"Como mudar isto é a pergunta de um milhão de
dólares. Imagens são muito mais fáceis de compreender do que
estatísticas," sugere ele, referindo-se à substituição de quadros e
tabelas por imagens que mostrem de forma mais intuitiva os dados estatísticos.
"Sem essa comparação, é difícil para o público
avaliar as vantagens e desvantagens relativas de fazer o exame de PSA, versus
não fazer o exame de PSA," avalia.
Os homens continuarão a pedir exames de PSA, ou a atender
ao pedido dos seus médicos.
Mas a ciência psicológica sugere que, a menos que as
pessoas sejam convencidas a escolher as estatísticas em detrimento das
histórias individuais que ouvem, a confusão em torno da eficácia do exame vai
perdurar, afirmam os pesquisadores.
Diário da saúde.
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