ÁCIDO ÚRICO E GOTA
Autor: PEDRO PINHEIRO
A gota é uma doença
caracterizada por ataques episódicos de artrite (inflamação das articulações)
em pacientes que apresentam níveis sanguíneos elevados de ácido úrico. A gota é
um condição extremamente dolorosa, que se não for tratada adequadamente, pode,
a longo prazo, levar a deformidades articulares e doença dos rins.
Neste texto explicaremos
iremos abordar as seguintes questões sobre ácido úrico e gota:
O que é doença gota?
O que é ácido úrico?
Quais são os sintomas da
gota?
Quais são os sintomas do
ácido úrico alto?
Por que o excesso de ácido
úrico provoca artrite?
Quais são os alimentos
ricos em ácido úrico?
Quais são os fatores de
risco para gota?
Qual é o tratamento para a
gota?
O que é o ácido úrico? O
que é a doença gota?
O ácido úrico é uma
substância produzida no fígado, derivada do metabolismo da purina, um tipo de
proteína presente nos alimentos que ingerimos. Quanto mais purina ingerimos,
mais ácido úrico é produzido pelo nosso organismo.
Durante a evolução das
espécies, o ser humano perdeu a capacidade de produzir uma enzima chamada
uricase, que transforma o ácido úrico em alantoína, uma substância muito mais
solúvel no sangue. Como resultado, os humanos apresentam níveis de ácido úrico
muito mais altos do que a maioria dos outros mamíferos. Os nossos níveis de
ácido úrico sanguíneo só não atingem níveis tóxicos porque a maioria de nós
consegue eliminar o excesso através dos rins. Nas mulheres em idade
reprodutiva, os níveis costumam ser um pouco mais baixos devido a influência do
estrogênio, que potencializa a eliminação do ácido úrico pelos rins.
Apesar do bom trabalho dos
rins, ainda assim os nossos níveis sanguíneos habituais de ácido úrico estão
muito próximos do limite de solubilidade, fazendo com que pequenos aumentos na
sua concentração causem precipitação (cristalização) deste nos tecidos. O ácido
úrico é mais solúvel em temperaturas acima de 37ºC, que é a temperatura do
sangue. Todavia, nas nossas articulações a temperatura é mais baixa, chegando a
32ºC em algumas delas, o que favorece a deposição de cristais nestes locais
(toque no seu joelho e compare a temperatura deste com as das coxas ou pernas).
O ácido úrico se deposita nos tecidos na forma de urato de sódio.
Quando ocorre deposição de
cristais de ácido úrico (urato de sódio) nas articulações, estes provocam uma
intensa reação inflamatória levando a uma artrite (inflamação das articulações)
muito dolorosa que recebe o nome de gota.
Resumindo: O ácido úrico
mantém-se dissolvido no sangue até níveis próximos de 7,0 mg/dl. A partir deste
valor, quanto mais elevada for sua concentração, maior é a chance de
cristalização e deposição nos tecidos, principalmente nas articulações, que são
as regiões de menor temperatura do corpo. Caso a concentração sanguínea de
ácido úrico continue se elevando, a cristalização pode passar a ocorrer mesmo
em tecidos mais quentes, como a pele. É importante destacar, porém, que são
necessários alguns anos de ácido úrico elevado para se desenvolver a doença
gota.
Sintomas do ácido úrico
elevado
A elevação do ácido úrico
sanguíneo, chamado de hiperuricemia, não causa sintomas. Na verdade, mais de
2/3 das pessoas com ácido úrico elevado nem sequer desconfiam do fato. O fato
de causar sintomas não significa, entretanto, que níveis elevados de ácido
úrico não possam levar a complicações. As duas mais comuns são as crises gota e
as pedras de ácido úrico nos rins.
Algumas pessoas com
histórico de gota referem descamação das mãos e pés quando os níveis de ácido
úrico estão elevados. Na verdade, não existe nenhuma comprovação de tal
relação. Descamação das mãos e pés é geralmente causada por ressecamento da
pele e não por ácido úrico elevado.
Sintomas da gota
Gota - podagra
A manifestação clínica da
gota é a artrite, ou seja, inflamação de uma articulação, caracterizada por
dor, vermelhidão, inchaço e calor local.
A gota é classicamente uma
monoartrite, ou seja, uma artrite que atinge apenas uma articulação em cada
crise. As articulações mais acometidas são as dos pés, principalmente o
primeiro dedo do pé (dedão do pé) e joelhos.
A artrite da gota é tão
dolorosa que algumas pessoas não conseguem nem cobrir os pés, pois só o contato
do cobertor com a área inflamada já causa uma fortíssima dor. Podem haver
calafrios e febre, simulando um quadro infeccioso.
Reparem na foto acima de
uma artrite gotosa do primeiro dedo, com edema e vermelhidão do mesmo.
O ataque de gota dura
alguns dias e depois desaparece espontaneamente. O intervalo entre a primeira e
segunda crises pode durar até dois anos. Se não tratada, as crises de gota
começam a ficar mais frequentes e intensas, podendo acometer mais de uma
articulação por vez.
Ao longo dos anos a gota
não tratada leva a formação de tofos nas articulações, causados por deposição
crônica de cristais de urato. Os tofos podem ser únicos ou múltiplos, levando a deformidades como nas fotos a baixo. Essa fase da gota é chamada de gota tofácea.
O excesso de ácido úrico
também pode levar à formação de cálculos renais de ácido úrico. Existe também o
risco de deposição de urato e formação de tofos nos rins, causando insuficiência
renal crônica.
Como já explicado, a gota
é causada por prolongados níveis elevados de ácido úrico sanguíneo. Porém, nem
todo mundo que tem ácido úrico alto, desenvolve gota. Algumas pessoas mantém-se
anos com níveis de ácido úrico maiores que 7 mg/dl e nunca apresentam artrite
gotosa ou doença renal. O porquê disto, ninguém sabe.
A gota é muito mais comum
em homens e ocorre entre 35 e 45 anos. Nas mulheres costuma ocorrer somente
após a menopausa.
O diagnóstico da gota é
feito quando há um quadro clínico típico associado a níveis elevados de ácido
úrico. Quando há dúvida sobre a causa da artrite, o médico geralmente punciona
o líquido da articulação inflamada, procurando pelos depósitos de cristais de
urato.
Fatores de risco para gota
Obesidade.
Hipertensão.
Trauma nas articulações.
Longos períodos de jejum.
Consumo de álcool.
Grande ingestão de
alimentos ricos em purina.
Uso de medicamentos que
aumentam o ácido úrico, como diuréticos.
Dieta para ácido úrico e
gota
Pacientes com gota ou com
níveis elevados de ácido úrico devem ter uma dieta especial, evitando alimentos
ricos em purinas.
Os alimentos ricos em
purina (ácido úrico) são:
Carnes: bacon, porco,
vitela, cabrito, carneiro, miúdos (fígado, coração, rim, língua).
Peixes e frutos do mar:
salmão, sardinha, truta, bacalhau, ovas de peixe, caviar, marisco, ostra,
camarão.
Aves: peru e ganso.
Bebidas alcoólicas.
Alimentos com moderada
quantidade de purinas (ácido úrico):
Carnes: vaca, novilho e
coelho.
Aves: frango e pato.
Frutos do mar: lagosta e
caranguejo.
Leguminosas: feijão,
grão-de-bico, ervilha, lentilha, aspargos, cogumelos, couve-flor, espinafre.
Alimentos com baixo ou
nenhum teor de purina (ácido úrico):
Leite, chá, café,
chocolate, queijo amarelo magro, ovo cozido, cereais como pão, macarrão, fubá,
batata, arroz branco, milho, mandioca, sagu, vegetais (couve, repolho, alface,
acelga e agrião), frutos secos, doces e frutas (mesmo as ácidas)
Tratamento da gota e do
ácido úrico
O tratamento da gota se
divide em duas fases: tratamento das crises e a profilaxia das crises. A gota
não tem cura, mas pode ser muito bem controlada.
a. Tratamento da crise de
gota
Durante a crise de gota o
tratamento é feito com anti-inflamatórios comuns (AINE)
A colchicina é menos
tóxica do que os anti-inflamatórios (especialmente para os rins e estômago) e
controla a gota eficazmente, mas pode causar efeitos colaterais desagradáveis,
como náuseas, vômitos e diarreia. Esse efeito adverso é geralmente relacionado
à dose usada, sendo menos comum em doses baixas.
Nos pacientes que não
toleram AINE ou colchicina, uma opção é o uso de corticoides, potentes
anti-inflamatórios de origem esteroidal.
A aspirina (ácido
acetilsalicílico) deve ser evitada sempre que possível, pois a mesma, apesar de
ter efeito anti-inflamatório, reduz a excreção de ácido úrico pelos rins.
b. Prevenção da crise de
gota
Uma vez cessada a crise de
gota, o tratamento se volta para a diminuição dos níveis de ácido úrico. A
droga mais usada para este objetivo é o alopurinol. É importante ressaltar que
não se deve começar o alopurinol durante as crises, pois há risco de piora do
quadro. O alopurinol durante as crises só é aceitável se o paciente já fazia
uso crônico dele antes do início da crise.
Sugere-se manter a
colchicina para evitar novas crises enquanto os níveis de ácido úrico ainda não
tiverem sido reduzidos pelo alopurinol. Podem ser necessários alguns meses de
tratamento até se atingir valores desejáveis.
Uma outra opção para
baixar os níveis de ácido úrico é a probenecida, um medicamento que aumenta a
sua eliminação pelos rins. A probenecida não deve ser usada em pacientes com
histórico de cálculo renal por ácido úrico.
Desde 2008 existe um novo
mediamento chamado Febuxostat, que serve de alternativa para os pacientes que
não podem tomar nem alopurinol nem probenecida. O Febuxostat ainda não está
disponível no Brasil.
Ácido úrico elevado sem
sintomas | hiperuricemia assintomática
Como a maioria dos
pacientes com ácido úrico elevado não desenvolve crises de gota ou cálculo
renal, o consenso atual indica não usar alopurinol nestes casos. Só se começa
tratamento com remédios se houver um primeiro episódio de crise de gota,
cálculo renal, ou se os níveis de ácido úrico estiverem acima de 13 mg/dl no
homem e 10 mg/dl na mulher.
Nos pacientes com
hiperuricemia assintomática indica-se apenas uma alteração da dieta, visando
evitar alimentos ricos em purinas.
Leia o texto original no
site MD.Saúde: http://www.mdsaude.com/2009/04/gota-acido-urico.html#ixzz2iasCAvow
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