Remédios que não funcionam
É bom se preparar para mais uma armadilha da chamada "medicalização, a "fabricação de doenças" por interesses comerciais.
Dois médicos finlandeses fizeram uma extensa pesquisa sobre a "síndrome da bexiga hiperativa", e verificaram que há muito pouco de científico e muito de interesse comercial por trás dessa nova "doença".
"A síndrome da bexiga hiperativa tornou-se uma forma aceita para simplificar um conjunto complexo de sintomas, levando as pessoas a acreditar que bexiga hiperativa seja uma doença independente em si mesmo," explica o Dr. Kari Tikkinen, que realizou o estudo juntamente com seu colega Anssi Auvinen.
"No entanto, a verdade não é tão simples assim, já que geralmente há vários fatores operando para explicar os sintomas. Esta é também uma das razões pelas quais os chamados medicamentos para bexiga hiperativa frequentemente não trazem o resultado esperado," completa o pesquisador.
O artigo sobre a síndrome da bexiga hiperativa foi publicado no European Urology.
Bexiga hiperativa
A expressão "bexiga hiperativa" foi cunhada em um simpósio patrocinado pela indústria farmacêutica, realizado em 1997.
No ano seguinte, o FDA, órgão de saúde dos Estados Unidos, aprovou o primeiro medicamento para o tratamento de "sintomas de bexiga hiperativa".
Logo depois, a indústria farmacêutica iniciou um esforço intenso de campanhas em todo o mundo, promovendo medicamentos destinados ao tratamento da "síndrome".
A síndrome da bexiga hiperativa é atualmente definida como a presença de urgência miccional, com ou sem incontinência, geralmente com aumento da frequência diurna e noturna na ausência de infecção ou outra patologia óbvia.
"A definição é vaga e ambígua, pois inclui termos inespecíficos, como 'geralmente' e 'com ou sem", e a expressão pouca clara 'outra patologia óbvia'," diz Tikkinen.
E o médico continua: "Para a indústria farmacêutica, esta definição é provavelmente bastante útil, uma vez que, por ela, um medicamento pode ser prescrito para um grande número de pacientes."
Interesses comerciais
Para elaborar o artigo, os dois pesquisadores revisaram sistematicamente todos os estudos sobre bexiga hiperativa e os canais pelos quais estes estudos foram financiados.
Os resultados mostram que as pesquisas em bexiga hiperativa tem aumentado significativamente nos últimos 10 anos, e a indústria farmacêutica tem investido muito neles.
"Já se demonstrou anteriormente que pesquisas financiadas por agentes comerciais frequentemente acabam não sendo publicadas se os resultados não servem aos interesses da empresa", ressalta Tikkinen.
Os pesquisadores argumentam que os sintomas de uma "bexiga hiperativa" devem ser estudados individualmente, e não como uma ambígua constelação de sintomas.
Desta forma, as causas subjacentes aos sintomas poderão ser mais bem compreendidas, e tratamentos eficazes poderão ser desenvolvidos.
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